4 de novembro de 2010

Uma atriz em ascensão

Para alguns, Kristen Stewart é simplesmente a “garota de Crepúsculo”. A reviravolta em sua vida veio com o papel de Bella Swan, da série adolescente vampiresca blockbuster que a deu visibilidade e lhe rendeu o título de “estrela de cinema.”

Image and video hosting by TinyPicE para muitos jovens atores isso teria representado a chance de ganhar uma grana preta, fazer um monte de filmes meramente industriais, de grande produção e bilheteria, e de cunho sobrenatural. Kristen, por outro lado, prefere o caminho mais difícil: filmes de produção independente, papéis que tenham algum significado para ela de forma genuína, e ocasionalmente a representação de um ícone (como por exemplo Joan Jett). Ela só espera que aqueles que a vêem como nada mais do que a Bella lhe dêem uma chance.

“Posso estar me arriscando agora, e estou ciente de que não há nada mais do que um público específico para esses filmes estranhos – aqueles diferentes e ecléticos – e aceito isso perfeitamente”, diz ela. “Mas, ao mesmo tempo, se eu faço filmes assim, quero que as pessoas vão para assistir o conteúdo do filme ao invés de dizer ‘oh, vamos ver o que a garota de Crepúsculo tem pra nos mostrar’”.

Kristen diz que ela é profundamente grata por todas as oportunidades que a franquia vampiresca a proporcionou, mas ela tem feito questão de garantir que os personagens que pega, desde então, não sejam exatamente como Bella. Um exemplo disso é a nuance de sua performance no recente filme independente “Welcome to the Rileys”, que já virou sensação. Interpretando a desbocada stripper adolescente e fugitiva Mallory, Stewart parece bastante natural e real. É muito verossímil sua atuação como a garota encrenqueira e traumatizada, ficando totalmente à altura dos co-protagonistas, James Gandolfini e Melissa Leo. “Estou muito contente de poder interpretar com a mesma idade da personagem, já que na época eu tinha 18 anos, e estava mais preparada, confiante e madura o suficiente para desempenhar o papel”, diz a atriz, agora com 20. “Eu li o roteiro quando tinha 16 anos, e era muito jovem. Acho que teria vergonha e evitado fazer muitas coisas.”

O diretor do filme Jake Scott conheceu Kristen pela primeira vez através do filme “Into the Wild”, onde ela atuou ao lado de Sean Penn. Seu tempo em tela é limitado, mas ela se saiu bem por conta própria. “Eu e Sean Penn saímos para tomar uma bebida e ele disse: ‘Sabe aquela garota?’”, lembra Scott. “Ela não fez muito naquele filme, mas simplesmente tem essa característica que eu sempre imaginei para a Mallory – eu sempre digo ‘astuta’. Um pouco selvagem, meio gato de rua, que realmente é forte nela, mesmo sabendo que ela vem de um ambiente muito feliz e amado. É interessante. Talvez por isso ela possa desempenhar desde personagens super problemáticas, como também personagens complexas”.

“Welcome to the Rileys” estava já em produção antes de “Crepúsculo”, e Scott recorda de ter que lutar um pouco para lançar Kristen Stewart. “Tive sorte que ele achou que eu merecia”, disse ela com uma risada. Stewart fez todo o possível para retribuir a confiança que Scott depositava nela, mergulhando em trabalhos de investigação e personalidade. “Eu sou do Valley, tive uma criação super normal e privilegiada, então o medo nisso era se acontecesse algo do tipo “quem é você e o que você quer saber?’”, diz ela.

Kristen leu livros sobre adolescentes que saíram de casa, conversou na vida real com mulheres que trabalhavam em clubes de strip, e até aprendeu pole dance. “Quase não dá pra ver no filme”, disse ela sobre o pole dance, “o que é chato – digo, não é chato fazer. Scott não queria explorar Mallory ainda mais, só que descobri que essas mulheres dão duro para conseguirem se manter. Eu tinha hematomas por todo lado nas minhas pernas, e em várias partes do meu corpo. Acho que fizemos tudo que podíamos para que isso ficasse direito. Para o tipo de garotas tratado nesse filme, é extremamente necessário. Seríamos simplesmente uma farsa, se não fizéssemos o trabalho adequado.”

Para Kristen, “o trabalho ideal” – as coisas que você tem que fazer para ter um desempenho tão autêntico no que for humanamente possível – é parte integrante da maneira como ela se aproxima do papel. Aqueles que querem vê-la como a estranha Bella Swan – algumas vezes melancólica, outras a adolescente insossa – provavelmente nunca ouviram falar em atuação. Há uma paixão impressionante que se assume sempre que o ator cogita realmente se conectar a um personagem. Mesmo que Kristen não precise fazer testes por um tempo, isso não quer dizer que ela faça suas escolhas sem vontade. Quando quer um papel, ela realmente tem vontade de fazê-lo.

“Se você precisa sentar e se perguntar se você quer fazer o papel, então é porque você não quer fazê-lo”, diz ela com firmeza. “Se você já se sentar dizendo ‘bem, é uma boa história, há ainda algumas coisas que não estão claras, mas eu posso resolver isso?” Não, não, não. Eu não conseguia ser assim. Eu achava que me sairia horrivelmente em qualquer projeto que fosse. Na verdade eu só consigo fazer funcionar algo que realmente me cativa. Se você acaba de dizer ‘eu quero vivenciar isso. Realmente gostaria de aprender com esse personagem.”, você vê tudo mais claro.”

No ‘Quarto’

Image and video hosting by TinyPicQuando se trata de atuar, Kristen mesmo muito nova já vê as coisas bem claramente. Sua mãe era supervisora de roteiro, então ela cresceu dentro de sets de filmagem. “Eu ia trabalhar com ela e via aquelas crianças no set e ficava “Caramba, eu preciso de um emprego”, diz ela, rindo. Uma oportunidade surgiu quando alguém a viu “cantar alguma música ridícula numa dessas apresentações de férias” na escola, lembra ela. “Tinha alguém na platéia que quis me ajudar a conseguir um agente para crianças. E é óbvio que provavelmente isso só aconteceria em Los Angeles.” Aos 9 anos, ela começou a fazer audições para filmes e fazer suas primeiras participações. Um de seus primeiros papéis de destaque foi a menina diabética no filme de sucesso “O Quarto do Pânico”, ao lado de Jodie Foster e sob a direção de David Fincher.

“Eu acho que eu fui umas seis vezes ao longo de vários meses, porque tinham começado a produção, depois do nada pararam, quando retomaram as gravações fizeram novos testes de elenco”, diz Stewart. “Eu realmente lutei pra conseguir esse papel. Todas as crianças que foram fazer o teste tiveram que suar a camisa… Não foi uma coisa rápida. Eu tive que ler para o diretor inúmeras vezes, e em todas elas ele fazia observações. Foi muito intenso.” Ela entende melhor a demora do processo agora, mas na época não via a hora de começar logo, e ter a chance de provar que era boa. “Eu ficava tipo ‘Meu Deus, cara, dá pra relaxar? Você vai se sair bem!”, diz ela, rindo. “Eu estava realmente pensando que ele devia confiar em mim.”

“O Quarto do Pânico” constatou que a carreira de Stewart tinha tudo para começar bem, mas isso realmente só aconteceu até ela estrelar o sombrio filme indie “Speak”, aos 13 anos, quando as coisas realmente tiveram expressão, e ela reconheceu que poderia estar construindo uma carreira. “Eu percebi que você pode obter mais desse trabalho do que apenas entretenimento e não ter que ir à escola”, diz ela. “Você pode contar experiências que outras pessoas demoram muito para ter”.

Ela entrou de cabeça nesse mundo de filmes adolescentes, através de projetos independentes bastante inteligentes, incluindo “The Cake Eaters”, na estréia de Mary Stuart Masterson como diretora. Masterson lembra de ter ficado impressionada com o desempenho de Kristen em “O Quarto do Pânico”, mas ela ficou ainda mais encantada quando elas começaram a trabalhar juntas. A personagem de Kristen em “The Cake Eaters” sofre de ataxia de Friedreich, uma doença que afeta a fala e os movimentos. Se os sintomas fossem descritos de forma imprecisa, diz Masterson, o resultado poderia ter sido ofensivo. Mas mais uma vez, Kristen estava determinada a fazer o trabalho.

“Ela estava totalmente comprometida em fazer da forma correta”, recorda Masterson. “Eu lhe dei algumas entrevistas que tinha gravado e a apresentei a algumas pessoas que vivem com a doença, e ela se mostrou imersa no processo. Ela era muito reservada sobre o assunto, e eu sabia que era um bom sinal, porque eu tinha passado por trabalhos semelhantes sobre personagens da vida real antes e sabia que o que ela estava passando era uma espécie de protecionismo com a integridade das pessoas que sofrem do que ela teria que interpretar. “

Quando Masterson começou a fazer o festival Q&A para o filme, “Crepúsculo” ainda não tinha sido lançado e Stewart estava longe de ser um nome familiar. “Depois de cada cena”, diz o diretor, “sempre vinha alguém me perguntando como é que eu encontrei uma atriz tão boa portadora da doença.”

‘Road’ Map

Stewart estava em Pittsburgh, trabalhando no filme indie “Adventureland” quando ela pegou os primeiros ares de Crepúsculo. Na época, diz ela, realmente não tinha “espaço suficiente na minha cabeça” até mesmo para considerar um projeto daquela magnitude. Ainda assim, ela foi para a audição e se lembra de estar excitada quando a diretora Catherine Hardwicke e o ator Jackson Rathbone voaram para Pittsburgh para se encontrar com ela. ”Trabalhamos juntos por quatro horas”, diz Stewart. ”E até o final disso, não queríamos parar de falar sobre o assunto, e Catherine ficava, ‘Ok, bem, eu acho que você deveria fazer isso. Vou pegar um avião agora, mas espero que possamos continuar esta discussão mais tarde.’ Eu fiquei meio ‘Ah, então isso quer dizer…’ . Eu não podia acreditar.”

Assim como Scott, Hardwicke ficou encantada com a breve performance de Kristen em “Into the Wild”. ”Eu senti sua vulnerabilidade e o anseio saltando da tela quando ela se sentou naquela cama no trailer, tentando seduzir Emile [Hirsch]“, recorda Hardwicke. “Kristen tem que sentir tudo – se conectar, para torná-lo seu próprio. Ela é intensa e poderosa e atleticamente talentosa. Bella Swan é desajeitada. Kristen tinha que ser a jogadora de vôlei mais estranha de Crepúsculo, mas na realidade ela é uma super-estrela”.

Stewart não foi necessariamente preparada para o que o status de “superstar” que Crepúsculo iria dar a ela, mas ela tentou permanecer com o pé no chão e manteve sua decisão quanto ao processo basicamente a mesma. ”Muita coisa mudou, mas ao mesmo tempo, o processo de escolha das coisas não muda”, diz ela. ”Eu acho que eu não saberia a diferença se eu não tivesse feito Crepúsculo, porque as coisas que têm rolado provavelmente não teriam rolado de outra forma. Eu estou consciente e grata por isso. E quando alguma coisa como ‘Welcome to the Rileys’ fala com você, você tem que pular sobre ela.”

Dito isto, ela ainda fica verdadeiramente surpresa quando os cineastas querem lançá-la em certas coisas – como Walter Salles em seu próximo filme de romance, de Jack Kerouac, chamado “On the Road”. ”Quando isso ainda era algo que estava por vir e eu estava na idade certa para o papel de Marylou, eu nem sequer quis pensar muito nisso, porque eu ficava ‘Eles vão contratar Scarlett Johansson!’”, disse Stewart com uma risada. ”O que teria sido fantástico, mas eu simplesmente não conseguia me imaginar inserida naquela equação.”

Agora que é parte da equação, ela está trazendo o seu comprometimento de costume para o papel – e refrescantemente, com um sentimento de admiração que não é normalmente encontrado em estrelas jovens que têm trabalhado como ela tem. ”Eu trabalhei com o meu amigo Tom Sturridge, e ele interpreta Carlo Marx, que é o Allen Ginsberg”, diz Stewart, com excitação em sua voz. ”Eu olhava para ele, e via ele fazendo um monólogo maluco de Allen Ginsberg no canto de alguma festa, enquanto eu dançava ao som do bebop jazz, e eu tipo,”Tom, nós estamos fazendo On the Road. Então deixa isso pra… Sabe? On the Road.”

Jogo de Estratégia

Image and video hosting by TinyPicEmbora ela tenha uma forma diferente de avaliar possíveis papéis, Stewart confessa que evita estratégias pesadas quando se trata de sua carreira, “porque ter uma estratégia, eu não poderia ter isso, uma vez eu não sabia o que eu queria fazer até que ela realmente gritasse para mim. Mas, eventualmente – vai saber o quão perto ou quão longe isso está – ainda mais agora que eu tenho recebido esse dom imenso do ‘sim’, eu adoraria desenvolver projetos e fazê-los com as pessoas que já estão perto de mim.”

O “dom do sim” que o sucesso de Crepúsculo tem dado a ela é algo que ainda deixa Kristen maravilhada. Mas ela entende as limitações desse dom – e ela não quer usá-lo para fazer uma nova versão de Bella Swan. ”Eu não tentei ainda, mas, aparentemente, seria fácil para mim ter sinal verde para um filme onde eu faça o papel principal se eu interpretar uma menina bonita, razoavelmente normal”, diz ela. ”Há um monte desses filmes. Mas se eu quisesse interpretar, digamos, um prisioneiro transexual [no indie 'K-11'], que eu realmente quero fazer, isso não possui o mesmo peso. “

Kristen sabe que muitos olhos estão voltados para ela neste momento. E ela sabe que existem algumas pessoas que sempre a verão como a “garota de Crepúsculo”. Mas ela está determinada a continuar a perseguir papéis diferentes, para construir sua carreira sempre demonstrando o seu compromisso para com quaisquer projetos que ela assuma e trabalhando duro para os escritores e diretores que confiam nela suas visões. ”Realmente”, ela diz com sinceridade, “eu só quero continuar fazendo o que venho fazendo.”

Sobre Kristen

- Está definida para estrelar as duas partes finais da Saga Crepúsculo, dirigidas por Bill Condon

- Foi indicada a quatro Young Artist Awards (com “Into the Wild”, “Cold Creek Manor”, “Undertow” e “Panic Room”)

- Foi grata por ter Joan Jett ao seu lado enquanto retratava a cantora em The Runaways: “Ela acabou realmente meio que passando o tempo todo comigo, ao longo dos ensaios, dia após dia de filmagem. Ela tinha seus próprios fones de ouvido, e nós ficávamos juntas constantemente. Ela sempre estava por perto, e foi assim que eu senti que era capaz de interpretá-la sem pensar que eu estava tão fora do lugar e ridícula. Tipo, eu estava apenas com o cabelo preto. Não podia sair dizendo: ‘Ah sim, eu sou Joan Jett!’”

- Trabalhar com Jodie Foster em “O Quarto do Pânico” deu a ela um modelo de como se conduzir como uma atriz: “Se eu tivesse trabalhado com outra pessoa, poderia não ter tido essa impressão particular que eu tenho dela, que foi controlada, muito focada e profissional – e também normal. Ela é uma das melhores garotas que eu já conheci e, em seguida, ao mesmo tempo, uma das mulheres mais extraordinárias.”

- Não tem feito muitos testes recentemente, mas está sempre pronta para eles: “Você pode mostrar a um diretor que você deveria estar lá, ao invés de ter de ganhar lentamente a aprovação e confiança dele. Na maioria das vezes, para mim, você tem reuniões iniciais e que são tipo ‘Você se importa de ler com alguém, só para te ver no personagem?’ E eu sempre falo: ‘Cara, é claro!’ É melhor porque você pode sentir ao invés de ser pega de surpresa.”



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